MARCOS CHAVES

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FOTOGRAFIAS JUSTAPOSTOS

 Exposição PIECES - galeria Nara Roesler

 Pieces, por Marcos Chaves, Simon Kirby, 2011.

 

 

 

 

Uma paisagem é dissecada em vários planos distintos enquanto as perspectivas, oscilantes, são reestruturadas num novo arranjo visual. Das imagens sobrepostas, como que ativadas pela fricção dos encontros, elevam-se movimentos inusitados que evocam e afastam, ao mesmo tempo, os primeiros estudos fotográficos que deram origem ao cinema. Justapostos é um trabalho, sobretudo, de montagem. Uma montagem em duas etapas e que tem início já no contato direto com os recortes do espaço definido. É o ato fotográfico que destrincha a paisagem, fatiando o tempo e as ações em andamento. Na sequência, a montagem prossegue com as imagens em mãos e é onde os planos se embaralham. À medida que o trabalho vai ganhando corpo e deixando as perspectivas clássicas renascentistas de lado, as durações estabelecem novos relevos, outros encaixes temporais, não-lineares, transcorrem. Esculpe-se o tempo, como diria Andrei Tarkovsky sobre o fazer cinematográfico. Nos primeiros trabalhos da série, Marcos Chaves imprimiu as imagens em metacrilato, uma técnica que permite criar um efeito de profundidade por conta da espessura do acrílico transparente, o suporte da impressão. Todo esse peso, entretanto, somadas as várias imagens, demanda uma estrutura firme para que o trabalho seja montado com segurança. E essa estrutura reforçada, conforme distribui as imagens nos planos, deixa áreas livres nas laterais, posteriormente preenchidas com espelhos. Espelhos planos, como se sabe, não apenas refletem a luz do ambiente como virtualizam (e invertem) a imagem criada, dando a impressão de estender tudo o que está no seu raio de alcance. Assim, os espelhos laterais operam em duas frentes: ajudam a distribuir a luz na composição geral e amplificam o zigue-zague entre o real e o virtual. Os novos trabalhos da série, executados em meados de 2022, contam com outro padrão de montagem. As fotografias são impressas em chapas de alumínio composto, mais finas, e montadas sobre uma estrutura leve que encurta consideravelmente os vãos entre os planos. A proximidade maior entre eles produz um volume mais homogêneo, compactado, aumentando a sensação de estranheza do que supomos ver - um desencaixe que, em realidade, agrega. Sem assumir um ponto central, mas centralidades, a paisagem não cessa de se ramificar.

 

Yan Braz